quinta-feira, 21 de maio de 2015

O BOM PERFUME DE CRISTO
Por: Julio Cesar Lucarevski

17/05/2015
“Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem”. II Co 5.15
Perfumes são fascinantes. Se nós pudéssemos, faríamos como Luis XV e teríamos um perfume para cada dia da semana. O fato é que somos atraídos pela sua alquimia mágica e pelos seus encantamentos. Cada perfume tem uma alma, ou seja, uma personalidade. Algumas são tão complexas que chegam a ter mais de duas mil combinações. Um perfume, como toda obra de arte, nasce de um artista que procura exprimir e transmitir aos outros uma emoção pessoal. O criador possui um dom especial, é um “Nez” ou “Nariz”. O seu “olfato” é dotado de grande imaginação criativa e uma excepcional memória olfativa. Um “Nez” consegue distinguir mais de 3.500 odores diferentes. O Nez ao criar um perfume sente antecipadamente o perfume que ainda não existe. Normalmente parte de uma idéia, uma recordação, uma emoção, um lugar, uma pessoa, então passa a criá-lo.
O perfume é uma das criações mais antigas da História e certamente a mais carregada de mistérios e simbologia. A palavra perfume é derivada do latim “per fumum”, que significa por meio da fumaça. Nos primórdios da humanidade ofertas eram queimadas em altares e assim através dos aromas tentava-se agradar as divindades. No Antigo Egito, os egípcios honravam seus deuses “esfumaçando” os ambientes e produzindo óleos perfumados para ritos religiosos. Sábios e médicos de todas as partes do mundo antigo dirigiam-se ao Egito para estudar medicina, perfumaria e os mistérios. O perfume estava intimamente relacionado aos rituais de adoração.
Na época, de Paulo, os aromas e os ungüentos também tinham características medicinais. Ao longo dos tempos o perfume foi sendo aperfeiçoado, até chegar à Idade Média, quando os perfumes passaram a ser destilados. Foi na França, que o perfume alcançou o seu auge. Na corte de Luís XV era amplamente consumido e depois da Revolução Francesa, deixou de ser apenas composições restritas a águas tratadas com flores. Começou a surgir fórmulas que combinavam aromas de couros, almíscar e musgos. Desde então, frascos de perfumes são objetos de desejo.
Vivemos a época dos sentidos. Somos arrebatados por imagens, músicas, comidas, toques, e aromas. Porém, o perfume vai além do nosso olfato, ele ativa sensações e emoções que nós não conhecemos. Já ressaltamos o caráter simbólico do perfume, a Bíblia também se apropria do perfume como símbolo para descrever os santos. Encontramos mais de 86 símbolos para descrever a Igreja de Cristo. Entre os mais conhecidos estão a luz do mundo e o sal da terra. Porém, a descrição como “o bom perfume de Cristo”, é uma das mais apropriadas para os nossos tempos pós-modernos.

O Bom Perfume de Cristo

Essência é o nome que se dá à uma concentração máxima ou a mais pura matéria para a fabricação do perfume. Os principais métodos são: a destilação, a pressão a frio, a maceração e a enflorage. Os últimos três consistem na maceração da matéria prima. As pétulas e as flores são amassadas até obter-se o sumo, ou a essência do perfume. Foi assim que aconteceu com Jesus, conhecido também como a Rosa de Sarom. Jesus Cristo sofreu todos os tipos de pressão, foi macerado, pisoteado, moído e crucificado pelas nossas transgressões. “Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades”. Is. 53.5. E seja talvez por esta razão que o apóstolo Paulo usa a expressão o “bom perfume de Cristo”.
No Velho Testamento animais eram sacrificados em altares com o propósito de obter o perdão de pecados. A fumaça da queima desta oferta subia ao céu em forma de um aroma agradável a Deus. A primeira vez, que encontramos na Bíblia foi com Noé após o dilúvio. “E o Senhor aspirou o suave cheiro: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo o vivente, como fiz”. Gn. 8.21. Essa seria uma prática instituída por Deus, na época de Moises, para o perdão das transgressões do povo de Deus. “Assim, queimarás todo o carneiro sobre o altar; é holocausto para o Senhor, de aroma agradável, oferta queimada ao Senhor”. Ex.29. 19. Deus ao aspirar o aroma da oferta ficava satisfeito e concedia o seu perdão. Porém, para que isto acontecesse esta prática deveria se repetir a cada transgressão.
Na nova aliança, Jesus tornou-se o perfeito perfume para Deus. Uma verdadeira adoração para Deus em nosso favor de uma vez por todas. Na cruz, Jesus ofereceu a sua vida como oferta de sacrifício a Deus para recebermos um perdão definitivo e uma completa redenção. O cordeiro de Deus sacrificado no verdadeiro altar, a cruz, exalou a mais agradável fragância para Deus. “Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”. Ef. 5.2. Jesus com o seu sacrificio satisfez completamente a justiça de Deus e resolveu o problema do pecado, nos dando uma nova essência: a vida de Cristo em nós.

Nós somos o bom perfume de Cristo

Quando o apóstolo Paulo escreveu “porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como no que se perdem” ele tinha em mente a imagem da celebração romana de uma vitória. Ele começou escrevendo: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.” II Co. 2.14. No Império Romano quando um general voltava para casa, após uma vitória em uma guerra, era homenageado com um desfile público. O general marchava imponente pelas ruas com o seu exército, exibindo os despojos e os cativos de guerra. Esses desfiles triunfais eram acompanhados de queima de especiarias e de incenso, formando nuvens perfumadas. As multidões em festa
sentiam o perfume da vitória no ar. Paulo estava dizendo em forma figurada, que Cristo, o verdadeiro general, marchava conduzindo aqueles que Ele resgatou em seu triunfo na cruz.
Contudo, a imagem do bom perfume de Cristo não se aplica à todas as pessoas. Somente aqueles que foram regenerados com Cristo podem influenciar e exalar esta essência de adoração e santidade ao mundo, de maneira positiva e transformadora. Em primeiro lugar, Jesus é o cumprimento da promessa da redenção do homem. ‘’Aspergirei água pura sobre vocês e ficarão puros; eu os purificarei de todas as suas impurezas e de todos os seus ídolos.” Primeiro: Ele nos purifica de todas impurezas. “Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne”. Segundo: Ele é quem muda o nosso interior, colocando em nós o Seu Espírito.“Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente as minhas leis... voces serão o meu povo, e eu serei o seu Deus”. Ezequiel 36.24-28. Terceiro, Ele vem habitar em nós, nos capacitando a sermos um novo tipo de gente. Um povo que tem um jeito e um cheiro diferente.
Frascos de um precioso perfume
A Bíblia diz que os que estão em Cristo também são chamados de bom perfume, porém não são eles a fonte produtora desse aroma. As novas criaturas são apenas os recipientes e o meio de exalar o perfume de Deus no mundo. Sem que percebamos a nossa vida “escondida com Cristo em Deus”(Colossenses 3:3) está influenciando pessoas e transformando realidades. A grande questão é: Por que muitos filhos de Deus ao invés de exalar o bom perfume de Cristo, deixam um rastro de gambá por onde passam? O que há de errado conosco?
No livro de Eclesiastes encontramos: “Assim como a mosca morta produz mau cheiro e estraga o perfume, também um pouco de insensatez pesa mais que a sabedoria e a honra” Ecl. 10.1 O mundo está cansado de palavras certas com ações erradas. Talvez este seja o nosso mal. Temos a doutrina certa, mas pouca experiência diária, verdadeira e relacional com o próprio Deus. Muitas pessoas não falam acerca do Evangelho em suas vidas porque não tem experimentado este frescor diário nas suas relaçoes com Deus e com o próximo.
As pessoas estão desejosas de sentir o aroma de Deus através das testemunhas de Cristo, porém elas têm sido impedidas pelo excesso de carnalidade e por egos em constante erupção por parte de muitos cristãos. Para que o bom perfume se manifeste através de nós, o nosso ego precisa passar pelo mesmo processo de fabricação do perfume: a destilação, a pressão a frio, a maceração e a enflorage. Este foi o modelo de Jesus na cruz para apresentar um aroma agradável a Deus. Se quisermos experimentar uma vida de adoraçao (aroma suave) e santidade (exalar o perfume) é preciso que sejamos conduzidos pela graça a seguir diariamente as orientações e os imperativos de Paulo: “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” II Corintios 4.11. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”.Ef. 5.1-2.
Segundo o Reformador João Calvino, o segredo para uma vida de santidade está em nossa união com Cristo por meio do Espírito. Para ele a espiritualidade não é entendida como uma série de experiências que causam catarses emocionais, mas hábitos diários do coração. A vida de união com Cristo nao é estática. Ela produz duas ações internas: mortificação (morte da vida velha) evivificação (manifestação da nova vida). A união com Cristo é, antes de tudo, a nossa união com a sua morte e com a sua ressurreição. A tarefa do Espírito Santo é fazer, com o nosso pecado, o mesmo que Cristo fez com o nosso pecado na cruz; remover sua influência de nossas vidas. Essa mortificação do pecado é seguida por uma segunda ação do Espírito: a vivificação. Assim como a mortificação tinha como base a união do Cristo com a morte de Cristo na cruz, a vivificação também se baseia na união do cristão com a ressurreição de Cristo. O Espírito traz ao cristão o mesmo poder que Cristo experimentou quando foi levantado dentre os mortos. Unidos com ele pelo poder da sua ressurreição, podemos viver uma vida nova na terra. “E, se o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês.” Romanos 8.11
Basicamente os componentes de um perfume são três: água, álcool e essência. Nós também precisamos de três elementos: Palavra, Espírito Santo e Cristo. Esvaziados de nós mesmos e cheios da Palavra, do Espírito Santo e de Cristo, estaremos exalando o bom perfume de Deus para aqueles que não conhecem a Cristo, como para aqueles que estão na na nossa mesma jornada de fé na família de Deus. Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.” II Co. 2.14.

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